O Okon é um
amigo da Nigéria, muito engraçado e espirituoso. Cidadão britânico, morou no
Reino Unido muitos anos, depois mudou-se para o Japão, onde morou por mais de 10 anos e é
casado com uma japonesa. Em
2009, Okon começou o
doutorado na Universidade de Southampton, pagando tudo sozinho, sem bolsa de
estudo. Veio para ter outras e melhores possibilidades no futuro. Ele tinha
feito um mestrado em Linguística Aplicada.
Ele dividiu um apartamento com o Tee, nosso amigo Tailandês. Eles ofereceram um jantar nigeriano e
tailandês para
mim e Kassandra e Mike em setembro 2011. Outro dia ele me deu feijão nigeriano,
muito parecido com o nosso feijão verde. Muito gostoso.
O Okon concluiu sua tese de PhD em agosto do ano passado, a submeteu para
os examinadores, e foi em seguida assumir o emprego de professor numa
universidade no Qatar. O emprego veio com o título de mestre que ela já tinha. Quando tiver o diploma de doutor
em mãos vai melhorar mais ainda. Emprego excelente com salário para fazer uma
diferença na vida. Muito merecido! Agora no comecinho de fevereiro foi a defesa
da tese, que teve como contexto de estudo o Japão e o tema foi ansiedade no aprendizado de
língua estrangeira. Ele diz
sempre que o povo japonês é tímido e reservado. Isso tem um reflexo nas interações que são propostas em sala de aula de inglês, por exemplo. A defesa da tese foi
tranquila e agora meu amigo é Dr Okon.
A defesa da tese do Okon terminou demorando muito para acontecer, a
contragosto dele. Mas é assim, o que não depende só da gente não se define como
nem quando a gente deseja. Aliás, mesmo quando depende só de nós nem sempre conseguimos do jeitinho do
nosso desejo. Ele tinha me dito há um tempo que estava louco para essa defesa
acontecer logo, para ele poder tirar a tese do 'sistema' dele. Eu sei como é
isso.
No começo do doutorado o Okon teve problemas sérios de referencial teórico
para desenvolver a pesquisa. Esses problemas ficaram claros na apresentação de primeiro ano. Segundo ele, jogou no
lixo todo um ano de trabalho, leituras, e muito material já escrito. Ele me disse que perdeu apenas o
tempo, mas aprendeu muito e encontrou um foco que seria possível para sua
pesquisa e a ele se entregou.
Trabalhou para conseguir dinheiro e se manter. Durante o doutorado ele passou
oito meses no Japão,
trabalhando de lá e
coletando dados para a pesquisa. Eu perguntei como ele conseguiu virar tão
completamente um jogo confuso no primeiro ano por um trabalho produtivo e com a
perspectiva – incrível – de concluir tudo em tempo record. Ele apontou para as
‘partes’ e disse ‘kalina, isso aqui não tá trabalhando, só isso aqui’, agora
apontando para a cabeça.
Okon é terrível. Morremos de rir, claro.
Sempre conversamos muito. Por enquanto nos restam emails. Ele é um amigo
querido. Antes de ir assumir o emprego no Qatar foi à Nigéria por quatro
semanas, ver o maior número possível de familiares. Okon riu muito dizendo que
tinha ir lá
naquele momento, agosto passado, na condição de estudante, portanto pobre e desobrigado de
levar presentes para muita gente, pela última vez.
No funeral do pai dele, há uns três anos, havia trinta e nove irmãos. Do
que ele consegue contar, são quarenta e sete, entre irmãos e irmãs. O pai dele foi um homem de vida
ocupada, casou-se várias vezes. Quando era criança Okon conviveu, numa casa grande, com
cinco ou seis mulheres de seu pai e um tanto de criancas. Em casa era feito o
rodízio de
roupas e dividida a comida, nem sempre farta. Fí-lo me prometer que vai escrever um livro
contando a vida dele, depois que ele contou essa e muitas outras histórias maravilhosas da vida pessoal dele
para mim e pro Tee num jantar de despedida dele no restaurante La Margherita,
em Southampton. Nós três compartilhamos área de estudo, linguística aplicada e a mesma orientadora. Comida
boa, papo excelente com muitas gargalhadas, e uma vista linda do porto.
A vida dele é muito inspiradora! Sair da Nigéria, correr mundo e chegar onde ele chegou não é fácil...
ReplyDeleteComeço um novo mestrado agora, em Letras. Se você voltar definitivamente, quem sabe a gente não se encontre?
pois eh, karen. muuuito interessante. ele contou tantas historias do pai, dele, dos muitos irmaos e sobrinhos. uma riqueza.
ReplyDeleteexcelente seu mestrado!!! sucesso, karen. se quiser conversar sobre qualquer coisa do mestrado, qualquer coisa, to aqui, com prazer.
to mais ou menos de volta. ainda vou para a inglaterra, concluir, defender, concluir! sonho com isso, mas a jornada eh longa e desaiadora.
sim sim adoraria encontrar voce. acho que quando estiver livre dessas pressoes fica mais facil viajar por deleite :-)
abraco grande.
dei uma visitada no kafka hoje. ando muito distante de internet e de computador, so resolvendo coisas de momento no celular.
que exemplo :) ADOREI :)
ReplyDeletepois eh Cintia. ele eh incrivel. e muito espirituoso e um amigo legal. conversamos muito. ele tem umas opinioes maravilhosas sobre a vida.
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