Pages

Saturday, 9 February 2013

o espirituoso Okon

9 feb 2013



O Okon é um amigo da Nigéria, muito engraçado e espirituoso. Cidadão britânico, morou no Reino Unido muitos anos, depois mudou-se para o Japão, onde morou por mais de 10 anos e é casado com uma japonesa. Em 2009, Okon começou o doutorado na Universidade de Southampton, pagando tudo sozinho, sem bolsa de estudo. Veio para ter outras e melhores possibilidades no futuro. Ele tinha feito um mestrado em Linguística Aplicada.
Ele dividiu um apartamento com o Tee, nosso amigo Tailandês. Eles ofereceram um jantar nigeriano e tailandês para mim e Kassandra e Mike em setembro 2011. Outro dia ele me deu feijão nigeriano, muito parecido com o nosso feijão verde. Muito gostoso.
O Okon concluiu sua tese de PhD em agosto do ano passado, a submeteu para os examinadores, e foi em seguida assumir o emprego de professor numa universidade no Qatar. O emprego veio com o título de mestre que ela já tinha. Quando tiver o diploma de doutor em mãos vai melhorar mais ainda. Emprego excelente com salário para fazer uma diferença na vida. Muito merecido! Agora no comecinho de fevereiro foi a defesa da tese, que teve como contexto de estudo o Japão e o tema foi ansiedade no aprendizado de língua estrangeira. Ele diz sempre que o povo japonês é tímido e reservado. Isso tem um reflexo nas interações que são propostas em sala de aula de inglês, por exemplo. A defesa da tese foi tranquila e agora meu amigo é Dr Okon.
A defesa da tese do Okon terminou demorando muito para acontecer, a contragosto dele. Mas é assim, o que não depende só da gente não se define como nem quando a gente deseja. Aliás, mesmo quando depende só de nós nem sempre conseguimos do jeitinho do nosso desejo. Ele tinha me dito há um tempo que estava louco para essa defesa acontecer logo, para ele poder tirar a tese do 'sistema' dele. Eu sei como é isso.
No começo do doutorado o Okon teve problemas sérios de referencial teórico para desenvolver a pesquisa. Esses problemas ficaram claros na apresentação de primeiro ano. Segundo ele, jogou no lixo todo um ano de trabalho, leituras, e muito material já escrito. Ele me disse que perdeu apenas o tempo, mas aprendeu muito e encontrou um foco que seria possível para sua pesquisa e a ele se entregou.
Trabalhou para conseguir dinheiro e se manter. Durante o doutorado ele passou oito meses no Japão, trabalhando de lá e coletando dados para a pesquisa. Eu perguntei como ele conseguiu virar tão completamente um jogo confuso no primeiro ano por um trabalho produtivo e com a perspectiva – incrível – de concluir tudo em tempo record. Ele apontou para as ‘partes’ e disse ‘kalina, isso aqui não tá trabalhando, só isso aqui’, agora apontando para a cabeça. Okon é terrível. Morremos de rir, claro.
Sempre conversamos muito. Por enquanto nos restam emails. Ele é um amigo querido. Antes de ir assumir o emprego no Qatar foi à Nigéria por quatro semanas, ver o maior número possível de familiares. Okon riu muito dizendo que tinha ir lá naquele momento, agosto passado, na condição de estudante, portanto pobre e desobrigado de levar presentes para muita gente, pela última vez.
No funeral do pai dele, há uns três anos, havia trinta e nove irmãos. Do que ele consegue contar, são quarenta e sete, entre irmãos e irmãs. O pai dele foi um homem de vida ocupada, casou-se várias vezes. Quando era criança Okon conviveu, numa casa grande, com cinco ou seis mulheres de seu pai e um tanto de criancas. Em casa era feito o rodízio de roupas e dividida a comida, nem sempre farta. Fí-lo me prometer que vai escrever um livro contando a vida dele, depois que ele contou essa e muitas outras histórias maravilhosas da vida pessoal dele para mim e pro Tee num jantar de despedida dele no restaurante La Margherita, em Southampton. Nós três compartilhamos área de estudo, linguística aplicada e a mesma orientadora. Comida boa, papo excelente com muitas gargalhadas, e uma vista linda do porto.

4 comments:

  1. A vida dele é muito inspiradora! Sair da Nigéria, correr mundo e chegar onde ele chegou não é fácil...

    Começo um novo mestrado agora, em Letras. Se você voltar definitivamente, quem sabe a gente não se encontre?

    ReplyDelete
  2. pois eh, karen. muuuito interessante. ele contou tantas historias do pai, dele, dos muitos irmaos e sobrinhos. uma riqueza.

    excelente seu mestrado!!! sucesso, karen. se quiser conversar sobre qualquer coisa do mestrado, qualquer coisa, to aqui, com prazer.

    to mais ou menos de volta. ainda vou para a inglaterra, concluir, defender, concluir! sonho com isso, mas a jornada eh longa e desaiadora.

    sim sim adoraria encontrar voce. acho que quando estiver livre dessas pressoes fica mais facil viajar por deleite :-)

    abraco grande.

    dei uma visitada no kafka hoje. ando muito distante de internet e de computador, so resolvendo coisas de momento no celular.

    ReplyDelete
  3. Replies
    1. pois eh Cintia. ele eh incrivel. e muito espirituoso e um amigo legal. conversamos muito. ele tem umas opinioes maravilhosas sobre a vida.

      Delete